domingo, fevereiro 20, 2005

Riade: mitos, factos e oportunidades/About Riyadh

Underneath you can read an article I've recently submitted to a Portuguese newspaper. As the title indicates, it's about Riyadh, and there I try to desmystify much of the hype that goes around in the West.

Due to its length, and all the time it would take me to do an accurate translation to English, I'll keep it in Portuguese. Should you have any questions just let me know! :)

Riade: mitos, factos e oportunidades

Quando no final do ano passado me desafiaram para integrar um projecto na Arábia Saudita, a minha primeira reacção foi de entusiasmo. No entanto, não foi preciso muito tempo para começar a ter duvidas. A Arábia Saudita não é conhecida internacionalmente pelas melhores razões!

Por detrás desta imagem dantesca estão os media, mas sobretudo aspectos de carácter cultural, e religioso. É verdade que a Arábia Saudita é um Estado corânico que utiliza a lei islâmica como base do seu sistema legal. Dito isto, a religião tornou-se um pretexto de manipulação e justificação, mas sobretudo um garante de poder para a família real e a elite que governa o país. As consequências são obvias e amplamente conhecidas entre todos nós: o forte condicionamento das liberdades civis, e o tratamento indigno da mulher. Esta forma de pensar e de actuar tem raízes profundas que, atravessa gerações e está amplamente difundida na sociedade saudita. Por isso, qualquer evolução de mentalidades terá que ser sempre lenta e gradual, sob pena de sofrer uma grande resistência, e de introduzir o caos generalizado na sociedade.

Contudo, outro factor tem contribuído em tempos recentes para uma crescente e acelerada degradação da imagem do Reino Saudita no Ocidente: o terrorismo. Refiro-me não apenas ao bin Laden que se tornou mundialmente celebre após o 11 de Setembro, mas essencialmente ao conhecimento que há que grande parte das redes terroristas islâmicas têm a sua génese, ou uma enorme base de apoio, no Reino.

Porém, o dia-a-dia tem-me revelado um país que está longe de ser um berço de malfeitores, e um opressor de povos. Quem chega a Riade pela primeira vez descobre uma cidade moderna com uma forte influência americana. A cidade tem uma excelente infra-estrutura rodoviária, e as zonas de lazer, muito ao gosto português recente, caracterizam-se exclusivamente por amplos centros comerciais.

Por ser uma cidade nova, construída praticamente de raiz, Riade não tem o charme das cidades europeias, nem projectos arquitectónicos de renome em numero suficiente que a distingam internacionalmente. No geral a cidade está mal cuidada, mas ainda assim é uma cidade equilibrada, embora pouco conhecida entre nós, e apenas pelos piores motivos.

A minha maior surpresa foi sem duvida o povo saudita. Em Portugal acreditamos ser nós o ultimo reduto europeu da velha hospitalidade, mas os sauditas têm conseguido exceder todas as minhas expectativas: são comunicativos, acessíveis e demonstram um enorme interesse em conhecer outras culturas. A comunicação é igualmente fácil porque o inglês está amplamente difundido.

Felizmente, as boa notícias sobre o Reino não terminam aqui. No passado dia 10 de Ferreiro realizou-se em Riade eleições municipais, e brevemente seguir-se-ão outras cidades. Embora aparentemente tímido, este foi um passo importantíssimo para uma maior abertura e democratização do Reino. Neste momento, já se discute a possibilidade de estender o poder de voto a mulheres, bem como outras formas de participação da sociedade civil na condução dos destinos do pais.

Em simultâneo, o governo tem executado reformas económicas que têm como objectivo trazer uma nova dinâmica à economia saudita. Refiro-me em concreto à liberalização recente do mercado de telecomunicações, aos projectos que existem no sector eléctrico, e ao apoio que é dado ao sector privado com o objectivo de reduzir a médio prazo a dependência do petróleo.

Por isso, a Arábia Saudita continua a ser uma terra de oportunidades onde se poderão realizar bons negócios, haja para isso a ousadia e a capacidade. O saudita tem um enorme poder de compra, uma grande apetência por bens de consumo, e é receptivo ao Ocidente. A demonstra-lo encontra-se em Riade todas as grandes marcas mundiais, mas também algumas marcas de massas como a Zara, que veem neste mercado uma excelente oportunidade de crescimento.

Para um país como Portugal que atravessa uma profunda crise económica, e que se defronta com um futuro que se avizinha difícil, o rico mercado saudita poderá contribuir positivamente para o incremento das exportações portuguesas, e para a internacionalização das marcas nacionais.

Riade, 14 de Fevereiro de 2005
Olindo Iglesia

in Diario Economico, 16 de Fevereiro de 2005